Os últimos dias foram mais tranquilos para os jogadores do Corinthians. Sem partidas nem viagens, eles tiveram o calendário preenchido apenas por treinamentos e um jogo-treino no CT Joaquim Grava. Porém, nem todos tiveram a agenda livre. Era semana de provas no Colégio Amorim, escola na Zona Leste de São Paulo, onde o meia-atacante Pedrinho cursa o segundo ano do Ensino Médio.
Aos 17 anos, a promessa do Corinthians tem a difícil missão de conciliar a rotina de jogador profissional com os estudos.
A jornada dupla – nos campos e nas salas de aula – não é novidade para Pedrinho, mas esse ano as coisas complicaram. Além de ter sido promovido ao elenco profissional do Timão, o garoto participou da campanha do título do Sul-Americano Sub-20, em fevereiro, na Colômbia, com a Seleção, que o afastou da escola por mais de um mês.
Matriculado no período noturno, ele tenta compensar as faltas na escola com estudos à distância. Os professores enviam materiais complementares ao garoto e tentam tirar dúvidas via aplicativos de mensagens.
– Eu acho que o estudo serve para tudo. Quero terminar a escola. Para quando for dar uma entrevista, saber falar, saber ler as coisas, conversar com as pessoas – contou Pedrinho, que recebeu a reportagem do ge em seu colégio.
Nessa semana, o jovem jogador voltará a perder aulas, dessa vez para realizar um outro sonho: disputar a Conmebol Libertadores. O Corinthians estreia na competição na quinta-feira, às 19h (de Brasília), diante do Liverpool-URU.
– O fundamental é criar um ambiente em que o Pedro queira estar na escola no tempo que ele pode, que está em São Paulo. Aí o professor tem a estrutura para fazer a reposição da matéria – explica Helcio de Oliveira, diretor do colégio em que o jogador estuda há nove anos.
Pedidos e "cobranças"
Pedrinho tenta agir com naturalidade, mas quem o observa no colégio logo percebe que ali não está um aluno "normal". De porte físico atlético e tênis de grife no pé, ele atrai os olhares de corintianos e torcedores de outros clubes ao chegar para as aulas.
Vira e mexe, surgem pedidos inusitados:
– A coordenadora da escola é corintiana. Ela não coloca pressão, mas sempre conversa comigo sobre os jogos, diz que tem que fazer gol (risos) – contou Pedrinho.
– Quando voltei para a escola esse ano, teve um garoto da minha sala que falou: "posso tirar uma foto com você?" .Também teve uma menina que pediu para mandar um vídeo para a mãe dela que era minha fã.
O assédio só não é maior porque o colégio em que Pedrinho estuda conta com diversos outros atletas, principalmente do Corinthians, e de diferentes modalidades, como natação e basquete.
Por lá já passaram vários nomes de destaque no futebol, como Malcom, Raphael Veiga, David Braz, Maycon, entre outros.
Camisas de jogadores que passaram pelo Colégio Amorim, onde estuda Pedrinho — Foto: Bruno Cassucci
Elogiado por seu comportamento, Pedrinho diz que antes gostava mais de Matemática, mas aponta Português e História como suas matérias prediletas. Também admite "uma ou outra nota vermelha".
Inglês é a disciplina na qual o jogador afirma ter mais dificuldade. Ciente da importância do idioma – ainda mais caso ele vá atuar no exterior no futuro – o jogador começou a fazer aulas particulares, acompanhado pela mãe.
Hoje o garoto já não precisa mais participar das aulas de Educação Física, mas no passado ele foi muito disputado nas competições internas. Também garantiu títulos nacionais e internacionais para o Colégio Amorim.
Diretor Helcio de Oliveira exibe conquistas do Colégio Amorim — Foto: Bruno Cassucci
Nota 10?
Um dos colegas de sala de Pedrinho é Adryan, volante que atualmente defende o sub-20 do Corinthians.
Em tom de brincadeira, o companheiro "entregou" o jovem meia-atacante:
– O Pedrinho é um pouco preguiçoso. Ele dá uns "migués", mas, quando quer fazer, faz – disse Adryan, sorridente.
O diretor Helcio de Oliveira e outros profissionais da escola elogiam o meia-atacante e ponderam que não se pode exigir de um atleta, com a rotina como a de Pedrinho, os mesmos resultados estudantis de outros alunos, que se dedicam apenas aos estudos.
– Particularmente, eu tento puxar o conteúdo para a realidade dele, fazendo um comparativo com a questão esportiva, não só o futebol, mas outras modalidades. Assim, ele pode assimilar melhor a matéria e o conteúdo – comentou Rodrigo Gaspar, professor de História.
Títulos conquistados por Pedrinho pelo Colégio Amorim — Foto: Bruno Cassucci
Acostumado a lidar com a perseguição dos zagueiros adversários, Pedrinho lida diariamente com a "marcação" da mãe, Ágatha Silva, que exige comprometimento do garoto com os estudos.
A preocupação dela com a educação do filho, inclusive, foi decisiva para levar Pedrinho ao Corinthians. Aos 9 anos, ele só aceitou atuar pelo clube por conta da promessa de bolsa de estudos no colégio particular.
No dia a dia com o elenco alvinegro, o garoto também recebe conselhos e incentivos:
– Outro dia entramos nesse assunto de escola no CT, e o Renato Augusto falou que é bom estudar, contou que terminou os estudos e disse que é sempre importante aprender – relatou o jovem.
Ainda em fase de aprendizado, dentro e fora de campo, Pedrinho começará na reserva no jogo dessa quinta-feira, mas deve passar por lições e provas na equipe ao longo dessa temporada, a primeira dele como profissional. Cercado de expectativa da comissão técnica, da diretoria e também da torcida, o garoto espera corresponder com boas notas e "passar de ano" pelo Timão.
Fonte/Créditos: ge.globo.com
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