Historicamente negligenciado no Brasil, o transporte ferroviário de passageiros entre municípios ganhou uma nova chance no fim do mês passado, quando o governo de São Paulo apresentou o edital de licitação do Trem Intercidades (TIC), que vai ligar a capital paulista a Campinas.
A linha expressa será a primeira de média velocidade no país, mais de uma década depois do frustrado plano de um trem-bala entre Rio e São Paulo. O projeto de R$ 12,5 bilhões é antigo, fez parte das plataformas de campanha dos ex-governadores João Doria e Rodrigo Garcia. O atual, Tarcísio de Freitas, marcou o leilão para 20 de novembro deste ano.
A previsão é que, em 2031, composições com capacidade para cerca de 800 passageiros em assentos marcados estejam completando o percurso de 96 quilômetros em pouco mais de 60 minutos, a uma velocidade de até 150 quilômetros por hora, com uma única parada em Jundiaí.
De acordo com os estudos do governo paulista, a viagem completa custará no máximo R$ 64 por passageiro. Uma passagem rodoviária entre São Paulo e Campinas hoje custa R$ 41.
O projeto inclui também o chamado Trem Intermetropolitano (TIM), entre Jundiaí e Campinas, e a revitalização da atual Linha 7-Rubi da CPTM, que hoje faz o percurso entre a estação Brás, no centro de São Paulo, e Jundiaí. Conheça a seguir os detalhes de como serão as novas linhas:
Trem Intercidades (TIC) chegará a 150 km/h
- A viagem do expresso que ligará São Paulo (estação Barra Funda) a Campinas deve durar entre 61 e 64 minutos de acordo com os estudos do governo. O projeto contempla apenas uma parada, em Jundiaí. A velocidade do trem pode chegar a 150 km/h, mas a média será de 96 km/h.
- A passagem do expresso entre a capital paulista e Campinas custará no máximo R$ 64 por passageiro e por trecho, mas há a possibilidade de que haja descontos a passageiros frequentes e outras promoções que tornem o modal mais atrativo. Passagens de ônibus custam hoje R$ 41 entre São Paulo e Campinas.
- A concessionária poderá oferecer modalidades de assentos diferentes com preços distintos, desde que transporte 800 passageiros por viagem durante a hora e pico, segundo o secretário de Parcerias em Investimentos, Rafael Benini.
- O Trem Intercidades vai compartilhar a mesma linha hoje operada pela Linha 7-Rubi da CPTM, mas haverá a construção de novas linhas em parte dos trechos. Hoje, a linha 7 divide a mesma linha com trens de carga operados pela MRS Logística, que terá de construir uma nova linha paralela para seus vagões entre Barra Funda e Jundiaí.
Trem Intermetropolitano (TIM)
- Chamado de trem parador, o TIM vai compartilhar trilhos com o TIC entre Jundiaí e Campinas.
- A diferença é que o TIM vai fazer um trajeto de 44,4 quilômetros em cinco estações: Jundiaí, Louveira, Vinhedo, Valinhos e Campinas.
- O TIM será mais lento, mas também mais barato. A previsão do governo paulista é que a passagem custe R$ 14,05 por trecho entre Jundiaí e Campinas. O passageiro que viajar de Barra Funda a Campinas nos trens com mais paradas vai pagar R$ 18,45.
Investimentos e leilão
- Para viabilizar as obras, o governo prevê um aporte para remunerar o investimento de aproximadamente R$ 6 bilhões durante os sete anos em que a concessionária fará as obras. Com isso, o governo estadual vai financiar cerca de 50% dos investimentos do projeto.
- O aporte será pago durante o ciclo de investimentos, de sete anos, até 2030. Pago de acordo com o andamento da obra e esses R$ 6 bilhões são aproximadamente 50% do investimento total do projeto, de R$ 12,47 bilhões.
- Além disso, o edital prevê pagamentos de contraprestações anuais de cerca de R$ 500 milhões quando a obra for entregue, em 2031, até o fim do contrato. A contraprestação total prevista é de R$ 13,74 bilhões, mas vencerá o leilão o grupo que der o maior desconto de contraprestação.
- Hoje, a Linha 7-Rubi vai de Jundiaí a Brás, onde faz conexão com as linhas 3-Vermelha do Metrô e Linha 10-Turquesa, 11-Coral e 12-Safira da CPTM. Entre Brás e Barra Funda, faz uma parada na Luz, onde há conexão com as linhas 1-Azul e 4-Amarela do Metrô e 11-Coral da CPTM. O novo projeto prevê desativar as paradas em Luz e Brás, encurtando essa linha até a Barra Funda.
O que pode atrapalhar o projeto
Os três serviços vão compartilhar os mesmos trilhos. Hoje, a Linha 7 divide a estrutura com trens de carga da MRS Logística, mas isso terá que mudar. Para que o TIC seja possível, a MRS precisará construir outra linha só para cargas entre São Paulo e Jundiaí.
A obrigação está prevista na renovação antecipada da concessão da MRS, assinada em julho do ano passado pelo governo federal. Esse é um dos fatores que podem atrasar o TIC. A MRS tem até julho de 2029 para concretizar a segregação da linha, mas o cumprimento desse cronograma será fiscalizado pelo governo federal, não pelo paulista.
A construção da nova via de cargas, paralela à Linha 7, de mão única e com pontos de ultrapassagem, é o maior desafio do projeto porque a concessionária só terá acesso ao canteiro de obras duas horas por dia, explica o secretário de Parcerias em Investimentos de São Paulo, Rafael Benini:
— Como essa linha está do lado da atual Linha 7, que é eletrificada, não é possível fazer obras enquanto estiver funcionando. A CPTM para de funcionar à 0h30 e a linha demora uma hora para ser desligada. Então a concessionária vai conseguir entrar ali 1h30 e, como a CPTM volta a funcionar às 4h30, precisará sair às 3h30 para que a linha elétrica seja religada.
Fonte/Créditos: extra.globo.com
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