O encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na última segunda-feira, após uma semana de tensão e crise entre os dois lados, teve como um dos intermediadores o senador Davi Alcolumbre (União-AP), que tem atuado para apaziguar os ânimos. O próprio Alcolumbre havia se reunido com o petista três dias antes e se ofereceu como mediador. Na ocasião, ele destacou a necessidade de Lula estabelecer um canal direto com o presidente da Câmara. O governo tem sofrido sucessivas derrotas naquela casa legislativa.
Com aval de Lula, Alcolumbre conversou com Lira na própria sexta-feira. O senador defendeu a retomada do diálogo e disse que ninguém ganharia com o confronto. Naquela semana, o presidente da Câmara havia levantado o tom, afirmando que havia uma “insatisfação generalizada” com o governo na Casa. Partidos da base ameaçavam deixar perder a validade a medida provisória que reestruturou os ministérios. Nesse caso, voltaria a valer o desenho deixado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Alcolumbre voltou a falar com Lira ao menos mais duas vezes ao longo da semana passada sobre sua relação com o governo. O senador ouviu queixas de que, mais uma vez, Lula permaneceu pouco tempo a sós com ele no café da manhã que tiveram no Palácio da Alvorada e o recebeu com assessores. Alcolumbre se comprometeu a trabalhar para estreitar a relação entre ambos. O senador também alertou que as rusgas entre Lula e Lira podem comprometer o projeto da reforma tributária,o que não interessaria a nenhum dos lados, de acordo com ele.
Além das críticas à articulação política do governo na Câmara feitas por parte de Lira, a operação da Polícia Federal contra aliados do deputado colocou mais gasolina na relação entre ambos. Em reuniões com membros do governo, inclusive o ministro da Justiça, Flávio Dino, Lira externou sua “estranheza” com o comportamento da Polícia Federal na investigação sobre fraude na compra de kits de robótica para escolas de Alagoas. Segundo congressistas próximos ao presidente da Câmara, ele fez chegar ao governo que, na sua avaliação, a PF de Alagoas poderia estar sob influência de seu inimigo político, o senador Renan Calheiros (MDB-AL).
O inquérito que mira aliados de Lira e seu ex-assessor Luciano Cavalcante foi conduzido pela Polícia Federal de Alagoas, mas teve apoio direto da sede da corporação, em Brasília, inclusive no ano passado, no governo Bolsonaro. As apurações se iniciaram em 2022 e seguiram ao longo deste ano.
Além de lançar suspeitas sobre Renan Calheiros, aliado de Lula, o presidente da Câmara tem externado críticas ao ministro da Justiça. Em uma agenda com empresários e parlamentares, na noite de segunda-feira, em São Paulo, após a reunião com Lula, Lira poupou o presidente da República e mirou em Dino, a quem a PF está subordinada.
O fato que mais irritou o o presidente da Câmara foi o monitoramento e rastreamento pela Polícia Federal dos investigados. Segundo congressistas, pessoas ligadas a Lira destacaram que esse recurso é caro e evidencia que o inquérito foi prioritário na PF.
O deputado também abriu artilharia contra o ministro da Casa Civil, Rui Costa, pela suposta dificuldade de efetivar indicações políticas para cargos no governo e de liberar emendas parlamentares negociadas com o Congresso. No governo, os elogios de Lira hoje se restringem ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Nesse contexto que Alcolumbre entrou em campo para tentar baixar a fervura. O senador tem bom trânsito no governo, tendo sido o avalista da indicação de dois ministros: Waldez Góes (Integração) e Juscelino Filho (Comunicações). Como presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, ele também se tornou uma peça-chave para o Planalto, já que será responsável pela marcação da data e condução da sabatina do advogado Cristiano Zanin, indicado por Lula para o Supremo Tribunal Federal.
Influência regional
Em paralelo, Alcolumbre negocia com o Planalto a ocupação de cargos regionais. Escolhido em abril para ser o coordenador da bancada do Amapá no Congresso, ele tem organizado indicações da ala de parlamentares do estado que são próximos ao governo, o que inclui os três senadores e seis dos oito deputados federais.
Entre as estruturas estão cargos estaduais da Caixa Econômica Federal, do Banco da Amazônia, do Departamento Nacional de Transportes e Infraestrutura (Dnit), da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e da Secretaria de Patrimônio da União (SPU). A negociação foi revelada pelo jornal Folha de S. Paulo e confirmada pelo GLOBO. As distribuições dos cargos estão sob a análise do governo.
Fonte/Créditos: Globo.com
Créditos (Imagem de capa): Globo.com
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