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Ex-joia do Palmeiras vira técnico na última divisão e critica altos salários na base: "Ganhava R$ 200"

Diego Souza, treinador do Tupã, abre baú de recordações sobre carreira e episódios marcantes no Verdão

Ex-joia do Palmeiras vira técnico na última divisão e critica altos salários na base:
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“Hoje em dia, os atletas têm salários absurdos com 17, 18 anos. Na minha época, ganhava R$ 200 por mês jogando no Palmeiras, então não dá pra comparar”.
— Diego Souza.

Em 2003, segundo Diego Souza, esse era o salário de um dos jogadores considerados joia da base do clube. No mesmo ano, o promissor meio-campista seria vice-campeão da Copinha e um dos destaques do Verdão na campanha do título da Série B do Brasileiro.

Aos 40 anos, hoje ele é técnico do Tupã na última divisão do futebol paulista, mas construiu toda a sua carreira até o futebol profissional no Palmeiras.

Na época, a base treinava na Academia de Futebol, hoje local exclusivo para o time principal, e tinha alojamento improvisado em uma casa próxima ao CT. A realidade era muito diferente da atual.

Apesar da estrutura muito diferente da atual – o Verdão recém-inaugurou um centro de treinamento moderno que abriga as categorias inferiores de futebol –, o Palmeiras revelou bons nomes naquele ano. A safra de Diego Souza teve também Vagner Love, Edmilson, Alceu, entre outros.

– Não tem comparação com o trabalho que é feito hoje. O pessoal não queria ir para a base do Palmeiras,não era tão organizada como é hoje. A gente tinha um Campeonato Paulista para disputar, tinha essa Copa São Paulo... se não me engano, eram três campeonatos só. Não tinha essa estrutura que tem hoje, lembro que não morava no Palmeiras porque sempre fui de São Paulo, mas era uma casa que tinha ali atrás do Parque Antarctica que o pessoal morava. Nós treinávamos em vários campos.

 

– Quando a gente ia treinar, tinha outro campo na Marginal, às vezes treinava na Academia quando o profissional não estava, então a base daquela época do Palmeiras era assim, não tinha comparação, não tem nenhuma comparação com a de hoje. Mesmo assim, nós estávamos vestindo a camisa de um dos melhores clubes do Brasil, do mundo, então a gente tinha que mostrar a cada dia por que estava no Palmeiras, porque a rotatividade de meninos era alta. Se tinha um grupo com 30, tinha mais 30 que queria o seu lugar – conta.

Nenhum dos jogadores citados acima, com exceção de Vagner Love, na época negociado pelo Palmeiras com o CSKA, da Rússia, por cerca de R$ 15 milhões, renderam muito dinheiro ao clube, diferentemente das negociações recentes envolvendo jovens formados no clube.

Nos últimos meses, por exemplo, o Verdão faturou cerca de R$ 700 milhões com a venda de três jogadores formados na base do clube: Endrick (Real Madrid); Estêvão (Chelsea) e Luís Guilherme (West Ham). O número salta para quase R$ 1 bilhão na soma de outros atletas.

Quase duas décadas atrás, o cenário era muito diferente.

– Nós pegamos o Palmeiras numa época de transição de patrocínios, então lembro que quando subi tinha o Zinho, Arce, era um timaço e ainda assim caíram de divisão. Tinha jogadores de Copa do Mundo, então a base não era tratada naquela época como é hoje. Hoje em dia mudou muito.

– Hoje em dia os atletas têm salários absurdos, com 17, 18 anos. Na minha época, com 17, 18 anos, ganhava R$ 200 por mês jogando no Palmeiras, então não dá pra comparar. Eu pegava 20 notas, aquelas notas de R$ 10, ficava grandão com esse dinheiro. Meu Deus do céu, que momento era ali no Parque Antarctica que eu ia receber esses R$ 10 reais [20 notas]. Mudou minha vida, não tenho dúvida. Se você tem um atleta que ganha R$ 100 mil por mês e faz uns cinco anos de contrato, como esse moleque vai jogar bola? O moleque vai pensar o quê... como? É muito desproporcional o que o sistema hoje faz – conta.

 
Atletas de 15, 16, 17 anos ganham um salário absurdo e a maioria, uns 90%, se eu não estiver exagerando, não chega a jogar profissional.
 

A passagem de Diego Souza pelo Palmeiras começou aos 14 anos de idade até a promoção ao profissional. Foram 123 jogos, 17 gols e uma trajetória de altos e baixos, reflexo de um time que havia caído pela primeira vez para a Série B e que lutava contra problemas financeiros e de gestão.

 

Diego Souza iniciou o ano de 2003 sendo vice-campeão da Copa São Paulo de Futebol Jr. e terminou com o título da Série B do Campeonato Brasileiro, sendo um dos destaques do time profissional. Uma ascensão meteórica, mas forçada pelo meu momento vivido pelo clube naquela época.

– Talvez se o Palmeiras tivesse bem ali, com dinheiro, os jogadores não teriam subido (ao profissional). Então foi um momento especial para nós, não para o clube, que estava vindo de uma queda de 2002 no Campeonato Brasileiro, tentando subir em 2003 e graças àquela Copinha que nós fizemos, chegamos na final, o Jair Picerni subiu a base e acabou dando liga no Campeonato Brasileiro.

– Os dois atacantes, o meia e o volante eram titulares da Copa São Paulo, que eram o Alceu, o Diego Souza, o Edmilson e o Vagner Love. Fora outros que subiram, outros que foram para outros clubes. Aquela copinha revelou muita gente mesmo, não só para o Palmeiras, mas para o futebol aí mundo afora – relembra Diego.

 

“Temi pela minha vida”

 

O momento mais crítico da trajetória no Palmeiras aconteceu na madrugada de 21 de maio de 2004. Diego Souza voltava para a casa de carro após o empate com o Santo André por 4 a 4 e a eliminação nas quartas de final da Copa do Brasil.

O Verdão vencia o jogo por 4 a 2 quando Diego Souza foi substituído por Elson. Na época, Jair Picerni era o técnico do Palmeiras, que tinha Marcos, Baiano, Muñoz, Vagner Love, entre outros. A eliminação no Palestra Itália irritou torcedores, que foram até a porta da casa do meia cobrar explicações.

 
 
Temi pela minha vida. Temi muito pela minha vida. Eu saio do Palestra Itália em uma eliminação de Copa do Brasil para o Santo André, chego em casa e simplesmente no portão da minha casa tinha muitos torcedores
— Diego Souza.

– Morava em casa, tinha que entrar com o carro na garagem e não tinha jeito. Pense: "Meu Deus do céu, o que esses caras podem fazer?", mas tive o discernimento mesmo com essa baixa idade, 20 anos, de falar se eles iam culpar só um jogador. Alguma coisa está errada, se eliminou, eliminou o Palmeiras todo. Até falei para eles que quando o jogo estava 4 a 2, o Jair Picerni me tirou do jogo para segurar, os dois que tomamos eu não estava mais em campo. Vocês sabem onde eu moro, mas acham certo isso? Se querem cobrar vão na porta do CT cobrar todos. Vão cobrar um jogador?

 

– Naquela conversa estava mais tranquilo, depois daquilo ali o pessoal não ia mais em casa, viram que não tinha um bobão. Mas isso me amadureceu, me deixou mais ligado nos jogos e sabia que tinha que jogar bem todos os jogos ou pessoal viria em casa. É assim a nossa cultura, tinha que aceitar e não tinha condições de morar em um apartamento, de me mudar e tinha que conviver ali. Fiquei naquela casa até 2005, me amadureceu bastante – relembra Diego Souza.

 
Não tinha como fugir. Meu pai, minha mãe e minha irmã estavam lá dentro, tive que enfrentar e perguntar o que tinha acontecido com o risco de tomar umas porradas, mas fazer o quê? Ia tomar umas porradas ali, mas no outro dia poderia ser a minha vez. Foi assim que consegui lidar.
— Diego Souza.

Fonte/Créditos: Globo Esporte

Créditos (Imagem de capa): Globo Esporte

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