Léa Garcia morreu, nesta terça-feira (15) aos 90 anos em Gramado, no Rio Grande do Sul. A atriz estava na cidade para o Festival de Cinema de Gramado, que começou na última sexta-feira (11). O perfil de Léa nas redes sociais confirmou a morte da atriz. De acordo com o g1, a atriz teve um infarto e chegou a ser encaminhada para o Hospital Arcanjo São Miguel.
"É com pesar que nós familiares informamos o falecimento agora na cidade de Gramado no @festivaldecinemadegramado da nossa amada Léa Garcia", diz a nota no perfil da atriz.
Léa Lucas Garcia de Aguiar nasceu em 1933, no Rio de Janeiro, e tornou-se atriz em um momento da história em que esse não era um trabalho comum para mulheres negras. De acordo com o Memória Globo, Léa queria cursar Letras para ser escritora, mas seu destino mudou ao conhecer Abdias Nascimento. O dramaturgo e ativista apresentou a ela a sua estante de livros e sugeriu a leitura das tragédias gregas.
Depois, ele convenceu a subir no palco pela primeira vez, na peça Rapsódia Negra (1952), do próprio Abdias, encenada pelo Teatro Experimental do Negro. A partir de então, a paixão pelas artes cênicas se impôs. Trabalhando em teatro, TV e cinema, Léa Garcia consolidou uma carreira de papéis marcantes como a Rosa, de Escrava Isaura, novela que a tornou conhecida do público, e venceu a barreira dos personagens tradicionalmente destinados a atrizes negras. Tornou-se, assim, uma referência para jovens atores e admirada pela qualidade de suas atuações.
Orfeu da Conceição
No teatro, uma das peças de destaque que fez no início de sua trajetória foi Orfeu da Conceição (1956), de Vinicius de Moraes. Cotada primeiro para ser Eurídice, Léa Garcia se encantou com a personagem Mira e conseguiu o papel. Os ensaios se realizaram na casa do próprio Vinicius e a estreia aconteceu no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com cenários de Oscar Niemeyer. No elenco estavam Haroldo Costa, Zeni Pereira, Pérola Negra e Ciro Monteiro.
Um filme foi feito depois, a partir da peça, com o nome Orfeu Negro e direção do francês Marcel Camus. Em vez da Mira, a atriz viveu a Serafina no longa-metragem. “As gravações eram ótimas, os franceses se apaixonaram pelos atores, nos acordavam cantando ‘manhãã’, com sotaque. Esse personagem me valeu o segundo lugar na Palma de Ouro, em Cannes”, lembra.
Estreia na TV
A estreia de Léa na televisão se deu no Grande Teatro da TV Tupi, na década de 1950. Na emissora, participou também do programa Vendem-se Terrenos no Céu, em 1963. O convite para trabalhar na Globo aconteceu em 1970, quando ela integrou o elenco de Assim na Terra como no Céu, de Dias Gomes. Na trama, era Dalva, empregada do personagem de Jardel Filho. Ele inventa que ela era uma princesa de Tobocobucu e passa a frequentar as festas dos grã-finos acompanhado da empregada.
Depois, fez Minha Doce Namorada (1971), de Vicente Sesso, dirigida por Daniel Filho, Régis Cardoso e Fernando Torres, e O Homem que Deve Morrer (1971), de Janete Clair, novela que trazia a história de dois casais inter-raciais, novidade à época. Léa Garcia trabalhou também na TV Rio, onde atuou em Os Acorrentados (1968), de Janete Clair, ao lado Dina Sfat, com Beth Faria, Monah Delacy e Ivone Hoffmann.
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Pedro Bial e Léa Garcia — Foto: Globo
Selva de Pedra
Na Globo, a atriz teve a oportunidade de participar do primeiro programa gravado inteiramente em cores no país, Meu Primeiro Baile, Caso Especial exibido em 1972. No mesmo ano, foi convidada para ser a Elza, uma secretária em Selva de Pedra, novela de Janete Clair que teve bastante sucesso. “A novela tinha um enfoque muito forte, o drama da Dina Sfat com a Regina Duarte. A Regina era a namoradinha do Brasil, sempre muito querida pelo público, e a Dina também era querida, uma atriz forte”, compara.
Escrava Isaura
No ano seguinte, 1975, integrou o elenco de A Moreninha, de Marcos Rey. Duda, sua personagem, apaixonava-se por Simão, escravo que havia fugido e era interpretado por Haroldo de Oliveira. O maior sucesso da carreira aconteceu na próxima novela, Escrava Isaura (1976), um fenômeno de audiência no Brasil e no exterior.
Foi a primeira vilã de Léa Garcia na TV, o que lhe rendeu também problemas, além do reconhecimento de público. A atriz sofreu inclusive violência física de pessoas que não conseguiam separar a personagem da vida real. Mas ela ressalta que a Rosa, na condição de escrava, lutava com as armas que tinha, o que era de difícil compreensão pelos telespectadores.
A última novela de Léa foi Sol Nascente, em 2016.
Fonte/Créditos: gshow.globo.com
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